Duas cidades mostram a vantagem de juntar zona portuária e vida urbana
por Luís Naves
Hamburgo e Barcelona29 Junho 2006
Hamburgo e Barcelona29 Junho 2006
Para quem, em 2007, entrar no porto de Hamburgo, o edifício da Filarmónica do Elba parecerá um enorme veleiro de pedra. Por cima da sala de concertos, o hotel em vidro lembrará as velas de um navio fantasma. O espectacular conceito arquitectónico está em construção e será o ponto mais belo de HafenCity, projecto que visa transformar a zona portuária abandonada numa área com cinco mil apartamentos e 40 mil empregos. HafenCity terá metade da dimensão da Expo 98, de Lisboa, mas a vantagem de estar apenas a 800 metros do centro da cidade.
Port Vell, em Barcelona, é outro exemplo de reutilização de zona portuária degradada. O espaço de lazer corresponde ao porto antigo, no próprio centro, tendo dimensão de um quinto da Expo 98. O projecto foi possível devido ao êxito da difícil negociação entre as autoridades envolvidas (porto, Governo autónomo e Governo central), na altura dominadas por partidos diferentes.
Em ambos os portos europeus foi possível conjugar vida urbana e expansão económica. Outra cidade portuária, Lisboa, escolheu um caminho diferente: conflito entre planos de modernização do porto e a visão da câmara municipal de ligar a cidade ao rio. E, neste caso, a conciliação parece difícil.
Existe um estudo sobre a importância económica do Porto de Lisboa, que lhe atribui 4,5% do PIB da Região de Lisboa e Vale do Tejo, a qual conta para metade do produto interno do País. O estudo é de 2001 e refere-se a números de 1997. O impacto no emprego era então da ordem de 38 mil postos de trabalho.
Mas a globalização está a transformar o funcionamento dos portos. No caso da capital, a entidade responsável, Administração do Porto de Lisboa, prepara um plano que, com investimento modesto, duplicará o tráfego de contentores. Os números já conhecidos (a divulgar em Novembro) são impressionantes: no terminal de Alcântara, que trata 350 mil TEU anuais, a capacidade passaria para 700 mil, com um investimento de apenas oito milhões de euros. Se o porto avançar com o projecto de um milhão de TEU, terá de investir 35 milhões de euros (um contentor de 50 pés representa duas unidades TEU, twenty feet equivalent unit).
A Câmara de Lisboa, uma das autarquias mais alarmadas com estes planos, teme o equipamento "demasiado pesado" e o tráfego de camiões (ver caixa). Mas os responsáveis pelo porto afirmam que, pelo contrário, será utilizada uma nova técnica, ligando o terminal, por batelão, a uma zona logística a norte e ao respectivo acesso. Lisboa pode ficar livre de comboios de mercadorias e trânsito de camiões. Sobretudo, prometem, o porto vai operar com maior eficácia e gerar riqueza.
O peso económico
A importância económica será decisiva. "A missão de um porto é a de gerar valor e estimular a economia", disse anteontem o subdirector do porto de Barcelona, Santiago Garcia Milá, a uma delegação de responsáveis portuários portugueses, de visita a Port Vell. Na visão de Garcia Milá, o porto de Barcelona está a "ser pensado como sistema ibérico de circulação de mercadorias com valor acrescentado", pois os portos, "só por si, não são factores de desenvolvimento, a não ser que estejam ligados a um sistema logístico".
O consenso em Hamburgo foi fácil, por esta ser uma cidade-estado e a autoridade municipal coincidir com a do Länder (Estado federal). HafenCity terá um custo estimado em 5 a 6 mil milhões de euros (um milhão de euros públicos) e ocupa uma das margens do rio, o que na realidade separa ainda mais a zona urbana da portuária. O plano foi aprovado politicamente e a empresa promotora, presidida por Jürgen Bruns-Berenteig, não terá lucros, concentrando-se na concretização e na qualidade. Como explicou Bruns--Barenteig, na segunda-feira, à mesma delegação de portuários portugueses, "somos criadores de espaço pensado". Na outra margem do Elba, em frente à cidade de arquitectura arrojada, podiam ouvir-se as sirenes dos porta-contentores, na azáfama de alimentar a grande máquina industrial da Europa central. C O DN viajou a convite da Comunidade Portuária de Lisboa
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